18 agosto 2016

Por Erick Guerra, O Caçador :POLÍTICA E POLÍCIA

 
 Há um pensamento enraizado no meio Policial de que " Polícia e Política não se misturam". A origem desse pensamento é o idealismo de que a Instituição Polícia, como as Forças Armadas, deve ser "neutra" para poder ser imparcial e não ser desvirtuada por "influência de politicagens".  Essa forma de ver as coisas é partilhada, talvez por causa dos próprios policiais, por parcela considerável da população, que vê os Politicos com péssimos olhos e até considera a "mistura" polícia/política como "Máfia".
    Mas... Será que Política e Polícia não se misturam? Será que Polícia + Política = Máfia? Vamos responder a essas duas questões importantes:
    A despeito do que pensam muitos policiais, Polícia e Política já estão misturadas faz tempo! Senão, vejamos: Políticos Eleitos ( para cargos no Executivo ou no Legislativo) fazem as Leis com que a Policia trabalha e ditam as Políticas de Segurança Pública; As Políticas de Segurança Pública ditarão o uso do efetivo e dos recursos da Polícia ( o detalhe é que essas políticas, muitas vezes, são feitas por pessoas em cargos comissionados pelo governo, sem nenhuma experiência policial);  Os Políticos em cargos executivos também nomeiam os comandos das Instituições Policiais, de maneira que é fácil deduzir que há, a nível Delegados ( nas Polícias Civis) e no Oficialato ( nas Polícias Militares), disputas internas de "facções" que, em última análise, se articulam com os Politicos e seus Partidos com a finalidade de conquistar e manter o Poder dentro de suas respectivas instituições; Com efeito, promoções, salário, aplicação de punições ou elogios, forma de emprego nas ruas, tudo isso e muito mais, é consequência direta da Política na Polícia. O Policial que não vê isso, o "apolítico", se torna um elemento mais fácil de ser manipulado pelo "sistema" já montado e, assim, aceitar indefeso os opróbrios a que é submetido cotidianamente ( baixos salários, mau tratamento como ser humano, sucateamento dos meios de trabalho, etc). Geralmente, esse policial se queixa bastante dos Políticos e das "injustiças da Instituição" mas, como não se vê como um agente político, não faz política ( sindical, partidária ou social), e se torna um sofredor da "vida de gado", como "peixe desgarrado" que escolheu ser por sua opção apolítica - seja lá o que ele pense! Enfim, por própria estrutura intrínseca ao Estado Democrático de Direito, Polícia é Política também.
  Políticos e Polícia trabalhando juntos tem o potencial de "ligações ilícitas" ou "perigosas", apenas quando tal articulação não é assumida e transparente, tornando-se um "conchavo de favores" ou uma Máfia mesmo. O fato concreto é que nas cidades do interior do RN, as Polícias são profundamente dependentes da ajuda do Poder Municipal ( alimentação, materiais de expediente, estrutura predial, contas de água e luz, conserto de viaturas, etc)... Tal ajuda municipal imprescindível ( pela falência crônica das contas do Governo Estadual) coloca a relação da Polícia com a Política a nível Prefeitura/Câmara de Veradores, com tudo o que isso quer dizer. São os fatos facilmente comprováveis e impossíveis de contraditar.
  Em verdade, o exercício correto da atividade Policial é um ato político. pois ao fiscalizar o cumprimento das Leis e proteger a população dos malfeitores,  o  Policial é um agente político ( quer saiba disso ou não) a serviço da Política de Segurança Pública vigente.
   A própria doutrina de "Polícia Comunitária" - grande avanço teórico/conceitual no emprego das instituições policiais e em sua forma de relação com a Sociedade - deixa claro que o sucesso do trabalho Policial depende de sua capacidade de inserção política ( no melhor sentido da palavra) na comunidade em que atua.
  Se queremos mudar a Segurança Pública para melhor, devemos admitir a realidade, trabalhar com as verdades e rever conceitos. Uma mudança em vários níveis é urgente! Vamos refletir, porque a primeira mudança tem de ser nos nossos conceitos pessoais.
        
Erick Guerra, O Caçador

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